Indiciados por organização criminosa, os policiais militares que faziam bico como seguranças de Vinícius Gritzbach ganhavam R$ 400 por dia de trabalho. Pelo menos 12 PMs da ativa participavam da escala de revezamento para proteger o delator do Primeiro Comando da Capital (PCC) morto com 10 tiros de fuzil no Aeroporto de Guarulhos, em novembro do ano passado.
• As informações constam no relatório final do inquérito policial militar instaurado para apurar o caso. O valor da diária aumentava em situações atípicas, com viagens. Na ida a Maceió, Alagoas, na semana que antecedeu o homicídio, por exemplo, os PMs que o acompanharam ganhariam R$ 500.
• A investigação mostra que a escala de trabalho era organizada pelo tenente Giovanni de Oliveira Garcia, como revelado pelo Metrópoles. Conhecido como “Garça” ou “Chefinho”, ele também seria o responsável por recrutar os policiais para a escolta de Gritzbach.
• Em uma das planilhas anexadas ao inquérito, consta a informação de que o soldado Samuel Tillvitz da Luz, por exemplo, tinha R$ 4.800 a receber, referentes a 12 dias trabalhados no esquema de segurança privada em agosto do ano passado. Samuel estava entre os PMs que deveriam receber o delator no aeroporto no dia da execução.
• Em depoimento à Corregedoria da Polícia Militar, o tenente Garcia disse que teria sido o responsável apenas por indicar os PMs para a escolta de Vinícius Gritzbach e que ganharia R$ 100 como comissão pela diária de cada policial. Segundo ele, a contratação e o pagamento pelo serviço seria feito por um advogado do inimigo do PCC.
• Para a equipe de investigação, no entanto, a informação não é verdadeira, levando em consideração trocas de mensagens entre Garcia e outros policiais. Nas conversas, é possível ver ele oferecendo vagas de trabalho e até pedindo dados para fazer transferências via Pix.
“Boa noite, irmão. Blz? Tenho uma vaga na segunda-feira no Bravo. O Alef vai estar viajando”, escreveu Garcia a Leonardo Cherry de Souza, em mensagens trocadas a partir de 6 de junho. “Se eu não arrumar ninguém eu vejo dele chegar mais tarde. Te aviso até amanhã”, acrescentou na sequência.
Em outro momento, ele fala sobre o surgimento de uma vaga fixa em uma das equipes de escolta de Gritzbach. “Trampa com eles amanhã, passa o fds em casa e depois me fala se quer fixar. É de segunda a sexta dia sim/dia não”, disse o tenente. “Os caras te passaram quem é o VIP?”, questionou ele, fazendo referência ao delator.
“Por mim sem novidades”, respondeu Leonardo, dando a entender que não via problema em fazer segurança para o inimigo do PCC.
Indiciamento
Apesar das suspeitas, as investigações da Polícia Militar e da Polícia Civil não apontaram o envolvimento dos PMs que atuavam como seguranças de Gritzbach no homicídio. Ao concluir o inquérito, no último dia 15 de abril, a Corregedoria indiciou 16 pessoas.
Entre elas, 12 PMs que atuavam na escolta. Eles vão responder por organização criminosa e um por falsidade ideológica. Os três policiais acusados de participação direta no homicídio, Denis Martins, Ruan Silva e Fernando Genauro, foram indiciados por organização criminosa para a prática de violência. O trio também vai responder na Justiça comum pelo homicídio qualificado.
Quem era Vinícius Gritzbach
• Jurado de morte pelo PCC, o corretor de imóveis Vinícius Grtizbach foi morto com 10 tiros de fuzil no Aeroporto de Guarulhos, em 8 de novembro do ano passado.
• Os mandantes do assassinato, de acordo com a Polícia Civil, foram os integrantes da facção João Congorra Castilho, o Cigarreio, e Diego Santos Alves, o Didi.
• Após atuar durante anos lavando dinheiro para o PCC, Gritzbach entrou na mira da facção após ser acusado de desviar um investimento milionário dos criminosos e de encomendar o assassinato do traficante Anselmo Santa Fausta, o Cara Preta, em dezembro de 2021.
• Além disso, em 2024, Gritzbach firmou um acordo de delação premiada com o Ministério Público de São Paulo (MPSP) em que prometia dar detalhes sobre o funcionamento da cúpula da facção na zona leste da capital.
• A execução trouxe a tona um esquema envolvendo policiais da inteligência da Rota que atuavam vazando informações em benefícios de chefões do crime organizado.
Fonte: Metrópoles