O senador Renan Calheiros (MDB) defendeu retomar o projeto de anistia ao hacker Walter Delgatti. A proposta foi colocada em postagem no perfil do parlamentar, em rede social.
O senador é defensor da candidatura do ex-presidente à Presidência.
Delgatti é o hacker que vazou as conversas entre o ex-juiz da Lava-Jato, Sérgio Moro, e o procurador que coordenava a operação, Deltan Dallagnol.
Os contatos, realizados pelo aplicativo de mensagens instantâneas Telegram, apontavam que houve conluio: relação ilegal entre o representante da acusação (Ministério Público) e o juiz de um caso.
Essa proximidade irregular entre quem acusa e quem julga é tão imprópria quanto a que pode haver entre quem julga e quem é julgado – juiz e acusado.
Apontado por alguns como um herói, por desencadear o chamado escândalo da Vaza Jato, Delgatti foi alvo de acusação pelo Ministério Público; de operação da Polícia Federal, e usa tornozeleira eletrônica, além de, em virtude do processo judicial, estar passando por dificuldades financeiras.
Antes do episódio, porém, foi acusado de estelionato e de cometer outras irregularidades, com vazamento de informações – a exemplo da de Moro.
“Ele não é santo, mas, o que ele fez merece destaque”, disse o escritor Fernando Morais, em passagem por Maceió.
Conhecido por biografias – entre as quais a do ex-presidente Lula –, Morais disse que dedicaria parte da tiragem de seu livro e noite de autógrafos em Araraquara (SP), onde vive Delgatti, para angariar ajuda a “Vermelho”, como o hacker é conhecido.
Apesar de ligado a irregularidades e ilegalidade, em relação à Vaza Jato, a ação do hacker teve impacto na política recente do país: o ex-presidente Lula acabou sendo solto, o STF anulou as decisões de Moro e, na última terça-feira (22), o procurador da República Deltan Dallagnol foi obrigado a pagar indenização de R$ 70 mil ao ex-presidente.
E o aplicativo de mensagens chegou a ser suspenso no país, por ordem do STF, por descobrir medidas judiciais – do que, também, é acusado em outros países.
“Walter Delgatti, o hacker que denunciou as delinquências da Lava Jato, mudou a história do país”, trouxe página do senador alagoano na rede social.
“Ele possibilitou as punições, ainda brandas, que estamos vendo e mostrou quem eram Sérgio Moro, Deltan Dellagnol e sua turma. É hora de retomar o projeto que apresentei para anistiá-lo”, concluiu Calheiros.
Em postagem anterior, no mesmo perfil do senador, pode-se ler – em mensagem referente à punição a Dellagnol.
“Impossível não lembrar de Dom Pedro Casaldáliga: ‘Creio na justiça e na esperança’. Um a um, os usurpadores da Lava Jato vão pagando por suas meliâncias”, escreveu o senador, mencionando o religioso católico falecido em 2020, que se notabilizou pela defesa de segmentos marginalizados, como trabalhadores rurais e povos indígenas.
“Já condenei esse pivete no CNMP e na Justiça. Outras punições por causa dos excessos virão”, conclui o senador, em referência ao procurador Dellagnol.