Após a Rússia anunciar um cessar-fogo parcial de cinco horas, a cidade de Mariupol, no leste da Ucrânia, adiou a retirada de civis por “questões de segurança”. Mariupol diz que a Rússia continua a bombardear a cidade e arredores.
Em comunicado, a cidade reafirmou que a Rússia não está respeitando o cessar-fogo. “Pedimos a todos os moradores de Mariupol que se dispersem e sigam para os locais de abrigo. Mais informações sobre a evacuação serão divulgadas em breve”.
Há dois dias, os líderes de nível central estão negociando com a Rússia para que seja possível evacuar com segurança os moradores de Mariupol. Mas, infelizmente, quando estávamos prontos, começou o bombardeio ao longo do corredor humanitário.
Comunicado da Prefeitura de Mariupol
Em anúncio na manhã de hoje, o Ministério da Defesa da Rússia confirmou a abertura de corredores humanitários nas cidades de Mariupol e Volnovakha a partir das 10h (5h da manhã no horário de Brasília).
Os corredores humanitários são áreas consideradas seguras, pelas quais civis podem escapar. A Rússia dizia que os bombardeios seriam interrompidos para que civis pudessem deixar as cidades.
Em Mariupol, a operação para retirada de civis estava prevista para começar às 11h (6h da manhã no horário de Brasília), mas às 10h55, o cessar-fogo estava confirmado apenas na região de Donetsk.
Ainda há combates ao longo do trajeto definido, na região de Zaporozhye, que seria o destino dos civis.
Mariupol está cercada por tropas russas
A cidade de Mariupol está sem energia elétrica, alimentos, água, gás e transportes. Um funcionário da ONG Médicos Sem Fronteiras, refugiado em Mariupol com sua família, relatou que está coletando “neve e água da chuva” para substituir a água. Os locais de distribuição registram longas filas.
Queríamos conseguir também o pão ‘social’ [distribuído pelas autoridades locais], mas o horário e os pontos de distribuição não estavam claros. Segundo a população, muitos armazéns foram destruídos pelos mísseis e o que sobrou foi levado pelas pessoas mais necessitadas, diz um funcionário da ONG Médicos Sem Fronteiras.
Há relatos de que a Rússia está destruindo infraestrutura civil e bairros residenciais. Ontem, o prefeito de Mariupol, Vadim Boichenko, afirmou que a cidade de 450 mil habitantes está submetida a um bloqueio por militares da Rússia.
O Exército de Moscou e separatistas anunciaram que a cidade está cercada. A informação foi confirmada hoje por relatório do Ministério da Defesa do Reino Unido.
O controle de Mariupol tem caráter estratégico para a Rússia porque permitiria garantir uma continuidade territorial entre a península de Crimeia e as cidades separatistas Donetsk e Lugansk, na região de Donbass.
Prefeito de Mariupol pediu corredor humanitário
Ontem, o prefeito de Mariupol, Vadym Boichenko, pediu a abertura de um corredor humanitário após mais um dia de “ataques implacáveis” das tropas russas.
Após o anúncio de cessar-fogo da Rússia, ele afirmou aos moradores que “não há escolha a não ser sair”.
“Caros moradores de Mariupol, a partir de hoje começa a evacuação da população civil na cidade. Não é uma decisão fácil, mas, como sempre disse, Mariupol não são ruas e casas. Mariupol são seus habitantes, somos você e eu. Nossa principal tarefa sempre foi e continua sendo proteger as pessoas”.
“Nas condições em que nossa cidade está, constantemente sob fogo implacável dos ocupantes, não há outra solução senão permitir que os moradores, isto é, você e eu, deixem Mariupol com segurança”, diz trecho do comunicado do prefeito de Mariupol, Vadim Boychenko
Corredor humanitário foi negociado em 2ª reunião
Na quinta-feira (3), autoridades da Rússia e Ucrânia se encontraram pela segunda vez e concordaram em montar um corredor de fuga para os civis. A primeira reunião terminou sem acordo.
“As partes chegaram a um entendimento sobre a criação conjunta de corredores humanitários com um cessar-fogo temporário”, disse o conselheiro presidencial da Ucrânia Mykhailo Podolyak.
A estratégia foi usada em conflitos recentes, mas não é consenso —na Síria, em 2016, organizações internacionais, a ONU (Organização das Nações Unidas) e os Estados Unidos alertaram que a retirada da população de determinadas regiões poderia deixá-las mais vulneráveis.
No caso da Ucrânia, deixar as áreas vazias pode facilitar o deslocamento de tropas e a ocupação militar russas.
FONTE: UOL, com informações da AFP