x-funcionário da família Bolsonaro, Marcelo Luiz Nogueira dos Santos acusou Ana Cristina Valle, ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), de ter ficado com pelo menos 80% de seu salário e de outros empregados. A denúncia foi feita em entrevista ao jornalista Guilherme Amado, do site “Metrópoles”.
Segundo Santos, que diz ter trabalhado para família Bolsonaro por 14 anos, Ana Cristina comandou o esquema de rachadinha no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro e replicado no gabinete do vereador Carlos Bolsonaro.
[Ela] Ficava [com 80% do salário], bem mais do que eu. E eu trabalhava, hein? Das pessoas que trabalhavam, que eram só laranjas, ela ficava com praticamente tudo. Só dava uma mixaria para usar o nome e a conta da pessoa. Eu ainda ganhava mais ou menos, porque eu trabalhava. Marcelo Luiz Nogueira dos Santos, em entrevista ao site “Metrópoles”
“Por exemplo: para o pessoal de Resende [cidade do RJ], ela só dava um um ‘cala boca’ para usar o nome e a conta, porque eles não trabalhavam, né? Ela é quem comia o dinheiro todo. Aí o que acontece: quando o Carlos foi eleito, o Carlos era uma criança, vivia no gabinete dele jogando videogame, com 17 para 18 anos, tanto que foi ela quem assumiu a chefia de gabinete do Carlos. Foi onde ela começou com isso. Mas o Carlos ainda morava com a mãe, não passava necessidade nenhuma, ainda estava começando a vida ainda, o pai sempre deu tudo”, prosseguiu.
Ainda segundo a reportagem do site Metrópoles, Santos foi contratado para ser babá de Jair Renan, filho 04 do presidente, e nunca teve carteira assinada por Ana Cristina e por Jair Bolsonaro.
O UOL confirmou que a exoneração de Marcelo Luiz Nogueira dos Santos do cargo de assessor técnico parlamentar no gabinete de Flávio Bolsonaro, então deputado estadual, foi publicada no Diário Oficial do governo do Rio em 6 de agosto de 2007. O ato é assinado por Jorge Picciani e Graça Matos, respectivamente presidente e 1ª secretária da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) na ocasião.
Em nota enviada à coluna de Guilherme Amado, a defesa do senador Flávio Bolsonaro afirmou que o parlamentar desconhece as declarações que Marcelo Luiz Nogueira dos Santos deu ao jornalista.
A defesa do senador também disse não saber de supostas irregularidades que possam ter sido praticadas por ex-servidores da Alerj ou possíveis acertos financeiros que eventualmente tenham sido firmados entre esses profissionais.
Anatomia da rachadinha
Em março, o UOL publicou uma série de reportagens depois de analisar 607.552 operações bancárias de 100 pessoas e empresas investigadas por envolvimento no esquema de rachadinha no gabinete de Flávio Bolsonaro, quando ele exerceu o cargo de deputado estadual na Alerj.
As operações bancárias eram resultantes da quebra de sigilo bancário decretada pela Justiça do Rio. A decisão foi posteriormente anulada pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça).
As transações mostraram que o então deputado federal Jair Bolsonaro empregou em seu gabinete por oito anos Andrea Siqueira Valle, a irmã de Ana Cristina Siqueira Valle. Um ano e dois meses depois que a irmã deixou de trabalhar para Jair, Ana Cristina ficou com todo o dinheiro acumulado da conta em que Andrea aparecia como titular e recebia o salário: saldo de R$ 54 mil — quantia equivalente a R$ 110 mil, em valores de hoje.
Outras reportagens do UOL revelaram ainda que assessores de Carlos Bolsonaro na Câmara Municipal do Rio e de Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados sacaram a maior partes dos salários que receberam, um indício da prática de rachadinha.
Ex-cunhada implicou Jair Bolsonaro
Em julho, reportagem da colunista do UOL Juliana dal Piva, a partir de gravações inéditas, apontaram o envolvimento direto de Jair Bolsonaro no esquema ilegal de entrega de salários de assessores na época em que ele exerceu seguidos mandatos de deputado federal (entre os anos de 1991 e 2018).
Em três reportagens, o UOL mostrou gravações que revelam o que era dito no círculo íntimo e familiar do presidente.
As declarações indicam que Jair Bolsonaro participava diretamente da rachadinha: nome popular para uma prática que configura o crime de peculato (mau uso de dinheiro público).
FONTE: UOL com Metrópoles