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Cultura

02/02/2025 às 10h15 - atualizada em 02/02/2025 às 15h43

Acta

MACEIO / AL

Quebra de Xangô: 113 anos do maior episódio de intolerância religiosa de Alagoas
Em 2 de fevereiro de 1912, terreiros de Maceió foram invadidos e destruídos; adeptos de religiões afro também foram perseguidos
Quebra de Xangô: 113 anos do maior episódio de intolerância religiosa de Alagoas
É preciso lembrar, valorizar os descendentes e lutar para que a intolerância religiosa jamais se repita. Foto:Lucas Massivo e Thiago Sampaio

“Vamos amar a Deus sobre todas as coisas. Vamos amar o próximo e respeitar a religião uns dos outros. Deus é um só, supremo sobre nossas cabeças, cultuado de diferentes formas. Cada religião manifesta sua fé à sua maneira. Não há razão para que a discriminação exista. O problema não está na religião, mas sim na maldade do ser humano”. O desabafo é de Mãe Mirian, zeladora de santo, símbolo da cultura afro-indígena em Alagoas e reconhecida como Patrimônio Vivo do Estado desde 2021. 


Filha de Nanã, Mãe Mirian carrega a ancestralidade e simboliza o matriarcado no Candomblé. Seu apelo contra a discriminação não se limita aos dias atuais, mas remete a um episódio histórico que jamais deve ser esquecido: o Quebra de Xangô. Na madrugada de 2 de fevereiro de 1912, Alagoas foi palco do maior ato de intolerância religiosa já registrado em seu território. Naquela noite, vários terreiros de Candomblé foram invadidos e destruídos em Maceió, fruto da violência contra as religiões de matriz africana, que vinha sendo fomentada havia tempo, impulsionada pela desinformação e pela associação equivocada com bruxaria.


Aos 90 anos, Mãe Mirian relembra os tempos sombrios vividos pelos praticantes do Candomblé em Maceió, especialmente nas décadas que se seguiram ao Quebra de Xangô. “Batiam na gente, mandavam prender, a polícia invadia nossos terreiros. Era um terror, uma humilhação. E eu estou falando de menos de 30 anos atrás. A intolerância era muito presente entre os alagoanos. Tivemos que mudar nossas tradições e fazer o Xangô Rezado Baixo para que não fizesse barulho e chamasse atenção. Todo esse cenário fez com que muita gente se escondesse e tivesse medo. Até hoje, vestir roupas de axé pode ser motivo para olhares tortos na rua”, relata.


Mãe Miriam reafirma que, mais de um século depois, o fato não pode cair no esquecimento, e que é preciso lembrar, valorizar os descendentes e lutar para que a intolerância religiosa jamais se repita, especialmente em Alagoas.


Para o estudante de História e abian (filho de santo) do Axé Pratagy, Alan Cerqueira, o 2 de fevereiro é um dia de resistência e reafirmação das religiões de matriz africana. “Além de ser um dia em que se clama por respeito às raízes afro-brasileiras, à ancestralidade e à diversidade que enriquece o país, é um momento para reconhecer a importância dessas religiões para a cultura e a sociedade. Elas estão intrinsecamente ligadas à história negra, que representa mais da metade da população brasileira", afirma Alan.


Ações do Governo


O Governo de Alagoas tem desenvolvido iniciativas voltadas à valorização da cultura afro-brasileira, ao combate à discriminação religiosa, à conscientização e à preservação da história do Candomblé.


Não há espaço para intolerância e discriminação. Vivemos um momento em que devemos respeitar uns aos outros. Existem leis, políticas públicas, projetos de conscientização e punição para aqueles que praticam intolerância religiosa. Construímos a Delegacia Tia Marcelina, referência no acolhimento e investigação desses casos. O Governo de Alagoas investe em ações para combater toda forma de intolerância religiosa, com atenção especial às religiões de matrizes africanas, historicamente alvo de perseguições”, destaca o governador Paulo Dantas.


Em 2012, o Governo de Alagoas fez um pedido oficial de perdão pelo Quebra de Xangô. Desde então, ações de combate à intolerância religiosa vêm sendo fortalecidas. 


 

FONTE: Agência Alagoas

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