12/10/2022 às 13h42
Felipe Farias
Maceió / AL
O tema só é tratado por este espaço com o devido respaldo de uma das próprias vítimas do episódio, o senador e candidato ao Governo pelo União Brasil, Rodrigo Cunha.
Mas, há outras várias vítimas, afinal, se trata – senão da maior – de uma das maiores tragédias na política brasileira.
A Chacina da Gruta, como ficou conhecida, chocou, enlutou e comoveu o Brasil, o Congresso, e levou o então vice-presidente Marco Maciel a Arapiraca, para a Missa de Sétimo Dia, representando o então presidente Fernando Henrique Cardoso.
A despeito de casos como o do vereador Renildo José dos Santos, esquartejado (provavelmente ainda vivo), pela oposição que fazia ao então prefeito de Coqueiro Seco Tadeu Fragoso (acusado pelo crime).
Do professor Paulo Bandeira, em Satuba, queimado (provavelmente, também vivo), no interior de seu carro, em crime do qual foi acusado o também então prefeito Adalberon de Moraes.
Do caso do deputado José Marques (também de Arapiraca), de várias “guerras” familiares que mancharam de vermelho a histórica da política alagoana ao icônico tiroteio no seio da Assembleia Legislativa de Alagoas, o plenário da Casa, em 1957.
Com direito a Mesa diretora protegida por sacos de areia, como se fosse uma trincheira, o saldo foi um deputado morto: Humberto Mendes, sogro e líder da bancada do então governador Muniz Falcão – e que hoje denomina a avenida que margeia o Salgadinho.
Mas, a truculência, o número de vítimas, a covardia e o motivo torpe fizeram da Chacina da Gruta o ícone – pelo menos nessa história mais recente.
E que é mencionada pelo senador em seu discurso de campanha – daí, arguirmos ter respaldo para também fazer alusão ao caso sob o prisma da eleição atual (enfatizando o respeito para com todos – inclusive para com o próprio senador).
A razão de o fazer: esta semana, Cunha declarou que sua posição na eleição presidencial será “por Alagoas”, ainda que seu principal aliado e padrinho de sua candidatura, Arthur Lira (PP) seja mais que aliado ao presidente Jair Bolsonaro (PL).
Na prática, não declarou apoio a Lula e nem a Bolsonaro.
Enquanto motivação eleitoral, até pode ter sido uma boa estratégia, e bem pensada: como ele mesmo citou no vídeo, há quem vote, para o governo estadual, no candidato que apoia um presidente e na votação de presidente, vota no adversário.
Mas, se o motivo foi de outro âmbito, faltou mencionar mais.
Ou seja, se foi uma escolha motivada pela história citada no começo, faltou esclarecer isso. E faltou o estofo para fazer tal esclarecimento.
Explica-se: publicação do deputado André Janones (Avante–MG), de agosto, relembra a tragédia e os desdobramentos políticos dela.
O então acusado pelo crime, Talvane Albuquerque, que também buscava reeleição, assumiu o mandato com a morte da deputada Ceci Cunha.
E buscava o mandato por motivo análogo a outros políticos nesta e em tantas eleições: imunidade parlamentar.
Como esta seria a motivação para o crime, foi aberto um processo de cassação do mandato, que resultou numa posição avassaladora por afastar o acusado: 425 votos a favor da cassação e 29 contra.
E desses poucos (na comparação com o total), houve apenas um dos então deputados federais que foi à tribuna da Câmara e proferiu discurso justificando por que votara contra a cassação: “porque algum dia, qualquer um de nós pode estar no lugar dele”.
Este um foi o hoje presidente Jair Bolsonaro.
Portanto, não faria sentido Cunha apoiá-lo, em 2022.
Mas, há um porém.
Ao expressar sua posição, na semana que se seguiu ao primeiro turno, o ex-presidente Michel Temer (MDB), um dos mentores do golpe que levou, após tantas manobras, Bolsonaro ao poder, disse que não o apoiaria.
Por hombridade ou covardia, atribuiu a posição a “pressão familiar”.
Em Alagoas, o concorrente ao governo poderia mencionar algo do tipo – se foi esse o motivo. Portanto, faltou mencionar.
E mesmo que não apoiar abertamente Bolsonaro seja por outro motivo, também faltou mencionar este.
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