28/09/2022 às 22h15
Felipe Farias
Maceió / AL
A declaração de votos de ministros do STF seria pelos motivos iguais da dos artistas de diferentes áreas – ainda que cada um por suas razões.
Ao fim e ao cabo está a civilidade – na sua expressão enquanto cultura e arte, da parte dos artistas; na segurança institucional, no caso dos ministros.
O reforço da declaração do ministro Celso de Mello veio endossar e aumentar a surpresa, um dia após a do colega jurista e, também ex-integrante do Supremo, ministro Joaquim Barbosa.
O ministro Celso de Mello teria, supostamente, razões para fazer críticas ao governo, por ter sido um dos primeiros alvos, pelo então ministro da Educação, Abraham Weintraub, aquele que, logo depois, saiu do país corrido, para não ser preso. E hoje maldiz o ex-chefe.
Mas, o que dizer do ministro Joaquim Barbosa?
Afinal, para filiados ou simpatizantes, juristas ou não, concordem ou não, para além da toga, seus dias derradeiros no STF foram sob o rótulo de “algoz do PT”, por causa do Mensalão.
Mesmo que envolva menos paixão ideológica que o escândalo do “Petrolão”, a decisão de Barbosa quase não foi questionada ou contestada – mesmo para quem se disporia a acompanhar seu voto, que consumiu dias, só para ler.
Contradição, mudança de lado, cooptação.
Nenhum destes – antes pelo contrário. Justamente pela tal condição de “algoz do PT” (e, em particular de José Dirceu), o ministro Joaquim Barbosa pode se dizer mais do que à vontade para alegar que sua declaração de voto é isenta de paixões, comedida, centrada e baseada no que deveria ser o elemento a nortear a decisão de toda eleitora e todo eleitor: racionalidade.
A despeito de sua biografia, o ministro não citou questões de âmbito socioeconômico que estão na base do discurso do próprio Lula.
Centrou seu argumento no reflexo para o país da imagem de um mandatário irresponsável, siderado, sem conexão com seu povo, sem empatia.
Alguém que não governa o maior país do hemisfério Sul, detentor do maior patrimônio em biodiversidade do planeta, uma balança no equilíbrio da geopolítica mundial, fora outros tantos predicados.
Não: Bolsonaro é alguém que governa para o “cercadinho”, governa motociatas, pessoas que veneram armas e passaram a viver enroladas na bandeira do Brasil – como se só a elas coubesse o pavilhão nacional.
Os argumentos do ministro Celso de Mello não foram menos legítimos.
Ele resumiu Bolsonaro: um não-presidente; alguém que poderia exercer outro cargo, menos o de presidente desta nação tão importante – e, por acaso, a nossa e de tantos quantos para cá vieram, continuam vindo e foram acolhidos.
Aliás, não; afinal todo e qualquer cargo exige uma dose de responsabilidade, equilíbrio, diplomacia, racionalidade e empatia.
Atributos que, ao longo dos últimos anos, Bolsonaro demonstrou que, definitivamente, não tem: com expressões como “cala a boca” e “eu não sou coveiro”; atitudes como fazer arminha e incitar seguidores a exterminar adversário ou alguém que pense diferente, e ameaças constantes – de mudar seja do chefe da PF ou Petrobrás – a dar um golpe no país.
Atributos necessários até para o estigmatizado cargo de síndico – que virou, coitado, o fim de carreira de políticos ruins, graças à expressão “não servem nem para...”.
E para este é que se exige tais atributos que faltam ao presidente – que o digam os próprios síndicos!
Mas, nos dois casos, o que deveras chama a atenção é os honoráveis ex-integrantes da mais alta corte do país empenharem suas imagens, palavras e reputações.
O que leva à conclusão: eles não declaram tanto o voto em Lula – antes, porém declaram contra Bolsonaro e tudo o que este representa.
E sabem que não votar em Lula – votando em Ciro ou Simone – é correr um sério risco de dar um segundo turno a Bolsonaro.
O sofrimento por que o Brasil está passando a três anos e tantos meses merece um fim sumário.
E o fizeram também dezenas de artistas, que empenham mais.
Enquanto os ministros têm os vencimentos vitalícios, os artistas dependem de seu público.
E, certamente – e infelizmente – por mais esclarecido que seja o público de um artista, por mais que ele ou ela representem seu público, por uma causa, uma orientação, o signo de uma evolução, haverá nesse público alguém que vota em Bolsonaro.
Mesmo assim, em grupo ou individualmente, de Fernando Moraes e Glória Pires a Anitta, de Paulo Ricardo (ex-RPM) a Xuxa (com direito a Libras) eles viram, a exemplo dos ministros, que era preciso – e mais: é urgente.
Do Chico Buarque há várias eleições já se sabe a posição. E não é à toa – sua obra fala por si.
Assim como a de Roger Waters.
Uma urgência que fez o violonista, virtuose e influencer, Heitor Castro trocar as publicações em que executa as maravilhosas peças no estilo conhecido por finger stile (vejam a execução de “Tempo perdido” em seu perfil – imperdível!) por depoimentos que vão do caso dos imóveis da família Bolsonaro a outras razões para votar em Lula.
Reputação e destaque conquistados servem para isso. Declaração de voto serve para isso. Consciência eleitoral serve para isso.
Com a Palavra
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