Um sistema de dessalinização instalado para abastecer famílias no sertão alagoano foi transformado em moradia particular em Olho d’Água das Flores. A irregularidade foi constatada pela equipe de Recursos Hídricos da Fiscalização Preventiva Integrada (FPI) do São Francisco durante inspeções realizadas em 20 de agosto. Além da invasão do imóvel público, os fiscais encontraram equipamentos abandonados a céu aberto e peças retiradas do local, situação que ameaça a recuperação do maquinário.
Descaso em Olho d’Água das Flores
No sítio Sucupira, o equipamento principal de osmose reversa foi retirado da casa de abrigo e colocado ao relento, sujeito a sol e chuva. A estrutura, construída para proteger o sistema, foi apropriada por um morador, que instalou cama, geladeira, fogão e outros móveis no espaço. A equipe também identificou fundações e paredes em construção, sinalizando obras de ampliação irregular dentro do imóvel público.
Além disso, bombas de diferentes tipos e caixas d’água pertencentes ao sistema foram levadas para a residência do responsável pelo equipamento, sob a justificativa de guarda. Para a FPI, a situação caracteriza invasão de patrimônio público e apropriação indevida de bens. O risco maior, porém, é a perda da funcionalidade de um sistema que poderia garantir água potável a dezenas de famílias.
“Enquanto em Carneiros vemos uma comunidade quilombola fortalecida, operando dentro das normas e servindo de exemplo, em Olho d’Água das Flores o que encontramos foi descaso e risco de perda total de um bem coletivo”, afirmou a coordenadora da equipe de Recursos Hídricos da FPI, Elisabeth Rocha.
Modelo quilombola em Carneiros
A poucos quilômetros dali, a realidade foi bem diferente. Em Carneiros, no povoado Lagoa do Algodão, a FPI encontrou um sistema de dessalinização em funcionamento adequado, operado pela própria comunidade quilombola. Um morador capacitado pela prefeitura é responsável pelo maquinário, que fornece água de qualidade através de um chafariz.
Embora a equipe tenha registrado pendências — como a falta de pastilhas para o clorador que assegura a desinfecção da água e a ausência de manta protetora para conter o rejeito salino despejado no solo —, o trabalho coletivo da comunidade foi considerado exemplar.
“É um exemplo de como a organização comunitária pode garantir água de qualidade, mesmo em regiões historicamente afetadas pela escassez”, destacou Elisabeth Rocha. Para ela, a experiência quilombola demonstra o potencial das comunidades tradicionais quando recebem capacitação técnica e acompanhamento. “Quando há comprometimento da comunidade e suporte dos órgãos responsáveis, os sistemas de dessalinização funcionam e melhoram a qualidade de vida das pessoas”, completou.
Contraste que exige atenção
As duas situações encontradas pela FPI no mesmo dia expõem os extremos vividos pelo semiárido alagoano: de um lado, o desperdício e a apropriação indevida de equipamentos públicos; de outro, a prova de que a gestão comunitária pode transformar tecnologia em dignidade. O contraste, segundo a coordenação da FPI, reforça a necessidade de fiscalização constante e do fortalecimento das comunidades locais na administração dos sistemas de água.
A equipe de Recursos Hídricos – Abastecimento de Água e Esgotamento Sanitário – é composta por Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Alagoas (Crea-AL), Conselho Regional de Química da 17ª Região (CRQ-17), Conselho Regional dos Técnicos Industriais da 3ª Região (CRT-3), Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA/AL), Ministério Público do Estado de Alagoas (MPE), Secretaria de Estado da Saúde de Alagoas (Sesau) e Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh).
Fonte: Assessoria MPAL