Leandro dos Santos Araújo, 23 anos, foi condenado a 31 anos, 5 meses e 5 dias de prisão pelo assassinato e ocultação do cadáver da sogra dele, a garçonete Flávia dos Santos Carneiro. O réu foi julgado nesta segunda-feira (20), no Fórum do Barro Duro, em Maceió.
Em depoimento ao júri popular, Leandro disse que se arrepende do crime e que agiu “por impulso” ao “tentar se defender”.
“Eu ouvi o barulho do faqueiro e só deu tempo de me defender. Quem me conhece sabe do meu coração. Foi no impulso, de cabeça quente. […] Eu me arrependo muito. Eu sou uma boa pessoa. Eu errei e assumo o meu erro. Se eu ouvisse mais a minha mãe… [talvez não tivesse acontecido]”, disse Leandro diante dos jurados.
Flávia foi morta no dia 1º de março de 2024, e o corpo foi encontrado quatro dias depois, dentro de uma geladeira abandonada em uma área de mata no bairro de Cruz das Almas.
Durante o depoimento, o réu voltou a detalhar o relacionamento com a filha da vítima, uma adolescente de 13 anos à época, e contou que morava com ela, o cunhado e a sogra. Segundo ele, o crime teria ocorrido após uma discussão dentro da casa.
“Nós fomos até a casa. Chegando lá, ela tomou banho. Ela disse: fique aqui, amor. Fiquei lá. Quando deu 18h e já estava indo embora, só que fui beber água. Foi quando a mãe dela chegou. Foi me xingando. Fiquei sem reação. Eu não queria brigar. Fomos no sofá e ela começou a mentir. Disse que estava muito doido no dia da briga. […] Ela tinha ciúmes de mim, eu acho. No dia do bar, ela disse que eu estava com outra mulher”, contou.
Leandro afirmou que a vítima teria partido para cima dele com uma faca.
“Do nada, ela começou a me esculhambar. Quando eu fui abraçar a Milena para ir embora, ela foi na cozinha para pegar uma faca. […] Eu estava abraçando a Milena. Eu cheguei a dar um mata-leão e queria sair dali. [No meio da confusão] Ela meteu uma facada no meu pé. Milena pegou a faca que caiu no chão e começou a gritar. Eu perdi a cabeça e dei as facadas.”
O juiz Geraldo Amorim, titular da 9ª Vara Criminal da Capital, mostrou imagens do corpo de Flávia, e familiares da vítima choraram no plenário.
Depoimento do pai
O pai de Leandro, Ademir da Silva Araújo, também é julgado no mesmo processo, acusado de ocultação de cadáver. Em depoimento, Ademir afirmou ter ajudado o filho a remover o corpo, mas negou saber que havia uma mulher dentro da geladeira no momento do descarte.
“Entrei no carro. A gente ia deixar a geladeira na casa do irmão da vítima, mas não deixamos para descartar. Ajudei a pegar a geladeira e peguei a parte mais pesada. A gente arremessou a geladeira. Não perguntei ao meu filho o que estava dentro. Descobri no depoimento”, declarou.
Ademir também contradisse o filho sobre a versão envolvendo o motorista de frete.
“O fretista não sabia [que tinha um corpo]. Foi o meu filho que falou da macumba.”
Leandro, por sua vez, disse que o pai ajudou a desmontar o eletrodoméstico e que o motorista teria sido ameaçado para não denunciá-los.
“Eu disse ao rapaz do frete que tinha um corpo no meio do caminho. Ele disse para não o envolver, se não, iria me denunciar. […] [Macumba] Ele quem inventou isso. Deve ter sido da cabeça dele”, afirmou.
Fretista relata frieza dos acusados
O depoimento do motorista de frete que transportou a geladeira chamou a atenção pela descrição da frieza dos acusados.
“Rodaram muito e depois disseram que iam descartar. A geladeira era nova, quem jogaria uma geladeira nova? Aí disseram que tinha uma ‘macumba’. Quando chegamos ao local, ela saiu embolando. Eles voltaram conversando normalmente, como se nada tivesse ocorrido”, relatou.
Policial da Oplit detalha descoberta
A policial civil Vanessa Queiroz, da Operação Litorânea Integrada (Oplit), contou que foi acionada para verificar a geladeira deixada em uma ribanceira e que o corpo foi encontrado dentro do eletrodoméstico.
“A geladeira estava com um lacre e, ao verificarmos, encontramos algo dentro. Acionamos a Delegacia de Homicídios, que confirmou tratar-se do corpo de uma mulher”, disse.
Ela relatou ainda que, ao ir até a casa do pai do réu, percebeu a ausência da geladeira.
“Achamos estranho ter tudo na casa, menos a geladeira. A adolescente acabou confessando o crime”, contou Vanessa. “Ao desenrolar o corpo, era possível ver nitidamente as perfurações no pescoço da vítima.”
A investigação
Segundo o Ministério Público de Alagoas (MP/AL), o crime ocorreu na casa de Flávia, no bairro do Jacintinho, após uma discussão entre a vítima e a filha. A adolescente confessou ter ajudado o namorado no assassinato. Flávia tentou se defender, mas foi morta com 20 facadas, a maioria no pescoço, conforme o laudo do Instituto Médico Legal (IML).
Depois do crime, o corpo foi guardado na geladeira por quatro dias até ser abandonado em uma área de mata em Guaxuma.
Leandro foi preso no dia 5 de março de 2024 por agentes do 6º Distrito da Capital e da Oplit. Desde então, permanece em prisão preventiva.
O promotor de Justiça Marcus Mousinho, da 49ª Promotoria de Justiça da Capital, sustenta a acusação de homicídio triplamente qualificado, por motivo fútil, meio cruel e feminicídio, além de ocultação de cadáver.
O júri popular foi suspenso para o almoço por volta das 13h e deve seguir com os debates entre acusação e defesa ao longo da tarde.
Fonte: TJ e MP-AL