O Conclave, processo da igreja católica que escolherá o sucessor do Papa Francisco, terá a participação de sete cardeais brasileiros. O pontífice faleceu na madrugada desta segunda-feira (21), aos 88 anos, conforme informado pelo Vaticano.
A data exata de início do Conclave só deve ser divulgada após o término dos ritos funerais de Francisco. Atualmente, o Conclave é composto por 252 cardeais, dos quais 138 eleitores (com menos de oitenta anos) e 115 não eleitores. O processo é secreto e somente os religiosos da lista têm conhecimento das discussões da reunião.
De acordo com as regras estabelecidas pelo papa João Paulo II em 1996, o Conclave deve começar entre 15 e 20 dias após a morte ou renúncia do papa anterior. Os cardeais são os principais conselheiros do Papa e são escolhidos por ele para ajudar a governar a igreja.
Leia abaixo, quais cardeais brasileiros participam do Conclave:
Dom Odilo Scherer – Arquidiocese de São Paulo (SP)
Odilo Pedro Scherer, de 75 anos, é, desde 2007, o Arcebispo da Arquidiocese de São Paulo, cargo que deve ocupar até 2026. Ele também exerce a função de Grão-Chanceler da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Odilo nasceu em 1949, em Quatro Pontes, no Paraná. Ele ingressou no seminário em 1963 e foi ordenado presbítero no dia 7 de dezembro de 1976.
Em Roma, concluiu mestrado em Filosofia e doutorado em Teologia. Entre 1994 a 2001, foi Oficial da Congregação para os Bispos, na Santa Sé, e desde 2007 é membro do Conselho Permanente da CNBB. Durante a pandemia da Covid-19, Dom Odilo ganhou notoriedade em todo o país ao ser uma voz ativa e com críticas direcionadas ao governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em função da condução da crise sanitária.
“A pandemia naturalmente pegou todos nós de surpresa. No seu início no ano passado ninguém poderia prever que as coisas fossem se desenvolver como acabaram se desenvolvendo. Depois, alguns governantes enfrentaram melhor do que outros o problema da pandemia. As medidas que deveriam ter sido adotadas… nosso governo federal pelo menos não adotou em tempo as medidas que deveriam ser adotadas”, disse, em 2021, em entrevista ao Roda Viva.
Dom Orani João Tempesta – Arquidiocese do Rio de Janeiro (RJ)
Orani João Tempesta, de 75 anos, nasceu em São José do Rio Pardo, em São Paulo. Ele iniciou nos estudos religiosos no interior paulista em 1969, e chegou a estudar em São João del-Rey, no interior de Minas. Os estudos de Teologia foram realizados no Instituto de Teologia Pio XI em São Paulo, SP,entre os anos de 1971 e 1974.
Foi ordenado presbítero em 07 de dezembro de 1974 em São José do Rio Pardo e foi eleito bispo da Diocese de São José do Rio Preto (SP) por São João Paulo II no dia 26 de fevereiro de 1997. Dom Orani é arcebispo metropolitano da Arquidiocese do Rio de Janeiro desde 2009 e também responsável pela Comissão Pastoral Regional para a Comunicação Social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Entre os momentos marcantes de sua trajetória na igreja está a organização da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) de 2013, no Rio de Janeiro. O evento contou com a participação do Papa Francisco. No Vaticano, o cardeal contribui com importantes comissões como o Dicastério para a Evangelização, o Dicastério para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos e a Pontifícia Comissão para a América Latina, além de atuar como Grão-Chanceler da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).
Dom Paulo Cezar Costa – Arquidiocese de Brasília (DF)
Natural de Valença, no Rio de Janeiro, dom Paulo Cezar Costa, de 58 anos, possui graduação em Teologia pelo Instituto Superior de Teologia da arquidiocese do Rio de Janeiro (1991), Mestrado (1998) e Doutorado (2001) em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana.
Foi ordenado presbítero aos 5 de dezembro de 1992. Em seu ministério presbiteral, foi vigário paroquial, pároco, reitor do Seminário Diocesano Paulo VI, em Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro. O cardeal colaborou na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) como membro do grupo de peritos da Comissão Episcopal de Doutrina e membro do Instituto Nacional de Pastoral.
Também atuou como professor acadêmico na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), e foi coordenador e diretor do Departamento de Teologia. No Instituto de Filosofia e Teologia Paulo VI, foi professor e diretor. Ainda exerceu a docência no Instituto Superior de Teologia da Arquidiocese do Rio de Janeiro e na Escola Teológica São Bento (ETSB).
Em 2010, foi nomeado pelo Papa Bento XVI como bispo auxiliar da arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ). Durante o quadriênio 2011-2015, foi membro da Comissão Episcopal Pastoral para a Doutrina da Fé da CNBB. Na realização da JMJ-2013, atuou como diretor administrativo.
Em 22 de junho de 2016, foi nomeado 7º bispo da diocese de São Carlos pelo Papa Francisco. Sua posse canônica ocorreu no dia 6 de agosto daquele ano, na Catedral de São Carlos. Atualmente, é arcebispo de Brasília e integrante de grupos e comissões da CNBB.
Dom Leonardo Steiner – Arquidiocese de Manaus (AM)
Leonardo Steiner é arcebispo da Arquidiocese de Manaus. O cardeal nasceu em 6 de novembro de 1950 em Forquilhinha, Santa Catarina e foi ordenado padre por Dom Paulo Evaristo Arns em 1978. Concluiu o curso de pedagogia e tornou-se mestre em noviços. Em 1995, foi transferido para a Pontifícia Universidade Anteneu Antonianus, em Roma, onde fez mestrado e doutorado em filosofia. De 1999 a 2003, foi secretário-geral na mesma universidade.
De volta ao Brasil, frei Leonardo foi nomeado ‘Vigário’ da Paróquia Bom Jesus, em Curitiba, e passou a lecionar na Faculdade de São Boa Ventura. Em 2005, tornou-se o segundo bispo da prelazia de São Félix e, em 2011, foi nomeado bispo auxiliar de Brasília, com o mandato de Secretário Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, cargo que exerceu de 2011 a 2019.
Em novembro de 2019, foi nomeado arcebispo metropolitano de Manaus e, em 2022, o Papa Francisco nomeou-o Cardeal da Amazônia.
Dom Sérgio da Rocha – Arquidiocese de Salvador (BA)
Arcebispo da Bahia, Dom Sérgio da Rocha, de 66 anos, nasceu em Dobrada, no interior de São Paulo. Ele foi ordenado presbítero na diocese de São Carlos e arcebispo da arquidiocese de Fortaleza, como bispo auxiliar, em 2011. O cardeal é mestre em Teologia Moral pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, em São Paulo, e doutor pela Academia Alfonsiana da Pontifícia Universidade Lateranense.
Trabalhou como diretor espiritual, professor e reitor do seminário diocesano de Filosofia de São Carlos, exercendo as mesmas funções também no seminário de Teologia da diocese. Foi arcebispo arquidiocesano no Piauí e em Brasília, antes de ser nomeado pelo papa Francisco, em 2020, como arcebispo em Salvador. Entre as atividades desempenhadas, dom Sérgio acumula atuações na CNBB e no Vaticano, por meio de grupos e comissões.
Dom Jaime Spengler – Arquidiocese de Porto Alegre (RS)
Dom Jaime Spengler é arcebispo da Arquidiocese de Porto Alegre. O cardeal de 65 anos nasceu em Gaspar, em Santa Catarina. Spengler cursou Filosofia no Instituto Filosófico São Boaventura, de Campo Largo (PR), e Teologia no Instituto Teológico Franciscano de Petrópolis (RJ), concluindo-o no Instituto Teológico de Jerusalém em Israel. Foi ordenado sacerdote em 17 de novembro de 1990, na sua cidade natal.
O religioso atuou dentro da Ordem dos Frades Menores em diversas missões e cidades de Israel até 2010, quando foi nomeado pelo Papa Bento XVI como bispo auxiliar. Dom Jaime Spengler é arcebispo metropolitano de Porto Alegre desde 18 de setembro de 2013, quando foi nomeado pelo Papa Francisco. Em maio de 2019 foi eleito 1º vice-presidente da CNBB e, quatro anos depois, foi elevado à presidência da CNBB para o mandato de 2023 – 2027.
Dom João Braz de Aviz – Emérito de Brasília (DF) e da Congregação para a Vida Consagrada – Vaticano
Dom João Braz de Aviz é brasileiro nascido em Mafra, Santa Catarina, e tem 78 anos. Foi ordenado padre em 1972 e bispo em 1994. Foi bispo auxiliar de Vitória, no Espírito Santo, bispo de Ponta Grossa e Maringá, no Paraná, e arcebispo de Brasília, arquidiocese da qual é arcebispo emérito.
No Brasil, foi eleito, em 2007, presidente do Regional Centro-Oeste da CNBB. Também foi membro da Comissão Episcopal Pastoral para a Doutrina da Fé e vice-presidente das Edições CNBB. Em maio de 2010, esteve à frente da organização do XVI Congresso Eucarístico Nacional, que aconteceu em Brasília, ano do cinquentenário da capital federal.
Sua criação como cardeal aconteceu em 18 de fevereiro de 2012, pelas mãos do então Papa Bento XVI. Em 2019, Aviz foi designado pelo Papa Francisco como presidente delegado do Sínodo dos Bispos para a Região Pan-Amazônica.
Exceção
Apesar de integrar o Conclave, o cardeal mineiro Dom Raymundo Damasceno Assis, arcebispo emérito da Arquidiocese de Aparecida, não poderá votar, mas pode ser um dos religiosos que poderá suceder o Papa Francisco.
Atualmente com 88 anos, o religioso, pelas regras do Vaticano, não poderá votar para a escolha do novo pontífice, por ter mais de 80 anos, mas pode ser eleito ao posto mais alto da Igreja Católica. Dom Raymundo Cardeal Damasceno Assis esteve à frente da Arquidiocese de Aparecida de março de 2004 a janeiro de 2017 e se tornou arcebispo emérito.
Como funciona o Conclave?
A eleição do Papa é realizada segundo a Constituição Apostólica de 1996, promulgada pelo Papa Beato João Paulo II, que rege o funcionamento do Conclave. Na prática, trata-se de uma espécie de um retiro sagrado, no qual os cardeais eleitores se reúnem para discutir e votar o nome do próximo ‘Santo Padre’. Todos os cardeais eleitores ficam hospedados em uma acomodação, na chamada “Domus Sanctae Marthae”, construída na Cidade do Vaticano. Há cardeais de três ordens: diáconos, presbíteros e bispos.
Na parte da manhã e na parte da tarde, são feitas as orações e a celebração das sagradas funções ou preces. Em seguida, há os procedimentos para as eleições. Podem votar e ser votados todos os cardeais com menos de 80 anos de idade. Os cardeais eleitores são obrigados a participar do Conclave e são convocados pelo cardeal mais velho (Decano).
Como é a eleição?
São feitas duas eleições por dia, uma de manhã e outra à tarde, e será eleito o cardeal que, numa dessas eleições, obtiver 2/3 dos votos, considerando presentes todos os cardeais. A eleição é secreta e cada cardeal coloca em uma cédula o nome em quem deseja votar. Três cardeais são escolhidos para fazer a contagem dos votos, esses são chamados de escrutinadores.
Se algum deles for escolhido com 2/3 de votos, estará eleito e, aceitando o cargo, é queimada uma fumaça branca no incinerador da Capela Sistina. Se após a segunda eleição do dia não houver ainda um eleito, então, queima-se uma fumaça negra que sai na chaminé da Capela, na Praça de São Pedro. Após cada eleição as cédulas são todas queimadas pelos escrutinadores.
Se houver algum cardeal doente que não possa sair de seu quarto, a urna é levada a ele por três cardeais, para que possa votar. Caso os cardeais não cheguem a um consenso sobre o novo Papa durante três dias de votações, estas serão suspensas durante um dia para uma pausa de oração. Em seguida, recomeçam as votações. Se, após sete novas tentativas, ainda não se verificar a eleição, faz-se outra pausa de oração. Se ainda assim as votações não tiverem êxito, os cardeais eleitores serão convidados a darem a sua opinião sobre aquilo que a maioria absoluta deles tiver estabelecido.
“Todavia, não se poderá deixar de haver uma válida eleição, ou com a maioria absoluta dos sufrágios ou votando somente os dois nomes que, no escrutínio imediatamente anterior, obtiveram a maior parte dos votos, exigindo-se, também nesta segunda hipótese, somente a maioria absoluta”, explicou o professor Felipe Aquino, membro do Conselho Diretor da Fundação João Paulo II.
Fonte: O Tempo