19/02/2025 às 16h49 - atualizada em 19/02/2025 às 19h04
Acta
MACEIO / AL
Na delação premiada, Mauro Cid, o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, faz revelações sobre a trama golpista envolvendo o ex-presidente, relata conversas com seu ex-chefe sobre a venda das joias sauditas e diz que dinheiro para o golpe circulava até em caixa de vinho.
O sigilo da delação caiu nesta quarta-feira (19), por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
A decisão de Moraes ocorre na esteira da denúncia da Procuradoria-Geral da República sobre a trama golpista. Bolsonaro, Cid e mais 32 pessoas foram denunciadas nesta terça (18) pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet.
Segundo Gonet, Bolsonaro liderou uma organização criminosa para derrubar a democracia e impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, entre o fim de 2022 e o início de 2023.
Veja abaixo detalhes da delação de Cid, um dos principais homens de confiança de Bolsonaro durante seu mandato:
O dinheiro das joias
Mauro Cid relatou que ele e seu pai, o general da reserva Mauro Lourena Cid, repassaram um total de US$ 78 mil (cerca de R$ 445 mil) a Jair Bolsonaro entre 2022 e 2023, após a venda de joias recebidas pelo então presidente.
Os repasses ocorreram em quatro ocasiões: US$ 18 mil foram entregues por Mauro Cid no Brasil, em junho de 2022; US$ 30 mil foram repassados por Lourena Cid em Nova York, em setembro do mesmo ano; US$ 10 mil foram entregues no Brasil, no fim de 2022; e US$ 20 mil foram entregues em mãos a Osmar Crivelatti, assessor de Bolsonaro, em Miami, em fevereiro de 2023.
Os valores provinham da venda de joias dadas a Bolsonaro pelo governo da Arábia Saudita. Só que os presentes pertencem ao Estado brasileiro, não a Bolsonaro.
Cid relatou que, ao viajar aos EUA para negociar parte das peças, retirou do valor final os gastos com passagens e aluguel de carro antes de repassar os fundos ao ex-presidente.
Tanto os US$ 30 mil quanto os US$ 10 mil entregues por Lourena Cid foram passados a Mauro Cid, que os repassou a Bolsonaro. Já os US$ 20 mil foram entregues diretamente a Osmar Crivelatti, assessor de Bolsonaro.
Bolsonaro e a tentativa de golpe
A delação também aborda a tentativa de golpe de Estado entre 2021 e 2023 para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva. O ex-presidente foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República por cinco crimes, incluindo liderança de organização criminosa armada e golpe de Estado.
Cid relatou que participou de reuniões em que militares discutiam uma possível intervenção, mas afirmou que não esteve envolvido diretamente em "nenhum planejamento detalhado". Ele descreveu a existência de grupos militares divididos entre mais "exaltados" e aqueles que tentavam "frear" Bolsonaro.
A delação também revelou que Bolsonaro ordenou o monitoramento do ministro Alexandre de Moraes, então presidente do Tribunal Superior Eleitoral. O objetivo era verificar se ele e o vice-presidente Hamilton Mourão estavam mantendo encontros secretos.
A investigação sobre a tentativa de golpe segue em andamento, e o STF prevê o julgamento de Bolsonaro ainda em 2025 para evitar contaminação do processo eleitoral.
Filhos de Bolsonaro
A delação do tenente-coronel Mauro Cid revelou que os filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), tiveram posições opostas em relação à tentativa de golpe de Estado. Enquanto Flávio defendia que Bolsonaro aceitasse a derrota e assumisse o papel de líder da oposição, Eduardo estava entre os mais radicais e incentivava o pai a permanecer no poder.
O sigilo da delação de Mauro Cid foi derrubado pelo ministro Alexandre de Moraes nesta quarta-feira (19), trazendo à tona detalhes sobre os bastidores da articulação golpista. Segundo Cid, Flávio fazia parte de um grupo conservador, que via a aceitação do resultado das eleições como a melhor estratégia. Essa ala aconselhava Bolsonaro a evitar um confronto direto e a organizar uma oposição forte para o governo de Lula.
O depoimento também revelou que havia um grupo radical, do qual Eduardo Bolsonaro fazia parte. Essa ala se dividia em dois segmentos: um que tentava encontrar provas de fraude nas eleições para justificar uma recontagem de votos e outro que defendia um golpe de Estado armado, acreditando que Bolsonaro contaria com apoio de forças populares e de CACs (Colecionadores, Atiradores e Caçadores).
Além de Eduardo Bolsonaro, o grupo radical contava com a participação da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, do ex-ministro Onyx Lorenzoni, do ex-assessor Felipe Martins e do senador Jorge Seiff. Eles pressionavam Bolsonaro a assinar um decreto que instauraria um Estado de Defesa, anulando o resultado das eleições e mantendo-o no cargo.
Já o grupo conservador, liderado por Flávio Bolsonaro, incluía nomes como Ciro Nogueira (então ministro da Casa Civil), o advogado-geral da União Bruno Bianco e o Brigadeiro Batista Júnior (comandante da Aeronáutica). Eles argumentavam que um golpe poderia ser um erro estratégico e que a oposição deveria ser fortalecida de maneira democrática..
Dinheiro em caixa de vinho
Cid revelou que recebeu do general Braga Netto, ex-ministro da Defesa e candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro em 2022, dinheiro vivo de uma caixa de vinho no Palácio da Alvorada em 2022.
A verba era para organizar as ações golpistas.
Cid afirmou que recebeu o dinheiro de Braga Netto e repassou o valor a Rafael Martins de Oliveira, um dos envolvidos na articulação golpista.
“O general Braga Netto me entregou o dinheiro, eu tenho quase certeza que foi no Alvorada. Até me lembro que eu botei na minha mesa ali na biblioteca do Alvorada e depois o [Rafael Martins] de Oliveira veio buscar o dinheiro comigo lá mesmo no Alvorada”, disse Cid em seu depoimento.
O ex-ajudante de ordens afirmou que não sabia o valor exato da quantia, pois a caixa estava lacrada e ele apenas repassou o pacote.
Segundo ele, o dinheiro foi entregue em uma embalagem que parecia um presente de vinho e foi recebido sem qualquer tipo de conferência.
Além da entrega do dinheiro, a delação de Cid mencionou a reunião de 28 de novembro de 2022, em que oficiais formados no Curso de Forças Especiais do Exército, conhecidos como “kids pretos”, se reuniram para discutir estratégias.
O grupo era formado por militares considerados mais radicais, dispostos a participar de ações golpistas.
Pressão de aliados
Cid também revelou que, após iniciar sua delação, sofreu pressões para revelar o conteúdo dos depoimentos. O general Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e da Defesa, e o advogado Fábio Wajngarten tentaram obter informações sobre os primeiros depoimentos.
Segundo Cid, após sua soltura, diversos intermediários entraram em contato com seu pai e sua esposa para descobrir o que ele havia dito à Polícia Federal. Braga Netto chegou a solicitar oficialmente ao STF acesso à delação, mas teve o pedido negado.
Wajngarten também teria feito ligações para familiares de Cid com o mesmo objetivo. Esses contatos estão sendo investigados para verificar se configuram pressão sobre o delator.
'Meu mundo' era Bolsonaro
Às autoridades, Cid também relatou que trabalhava tanto com o ex-presidente que seu "mundo" era Bolsonaro.
Nos depoimentos, Mauro Cid também afirma não ter participado de "nenhum planejamento detalhado" de tentativa de golpe.
"Eu não participei de nenhum planejamento detalhado, de nenhuma ação, meu mundo era o mundo do presidente, eu não estou mentindo, não estou omitindo [...] o meu mundo era o presidente, o meu mundo de ação era o presidente, eu estou falando a verdade aqui", afirmou.
Os termos da delação
Mauro Cid firmou um acordo de delação premiada com a Polícia Federal, revelando detalhes comprometedores sobre Bolsonaro e seu círculo próximo.
Em troca de sua colaboração, Cid pediu que suas condenações fossem reduzidas ou limitadas a dois anos de prisão, que seus bens apreendidos fossem devolvidos e que sua segurança e a de sua família fossem garantidas. O acordo também previa que os benefícios fossem estendidos ao pai, à esposa e à filha mais velha do delator.
O STF alertou que os benefícios só serão concedidos caso as informações fornecidas por Cid sejam confirmadas e que qualquer violação do acordo resultará na perda das vantagens. Em novembro de 2024, inconsistências foram apontadas na delação, levando Cid a prestar novos esclarecimentos para evitar o cancelamento do pacto.
Como contrapartida, Cid se comprometeu a contar a verdade sobre todos os crimes que praticou ou presenciou, auxiliar a Polícia Federal na análise de provas e afastar-se de qualquer atividade criminosa. Ele também se comprometeu a relatar se for contatado por qualquer investigado.
A lei brasileira estabelece que, mesmo que o delator descumpra o acordo, as informações prestadas continuam válidas para a Justiça. Assim, as declarações de Mauro Cid já estão sendo utilizadas em inquéritos e processos contra os envolvidos.
FONTE: g1
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