09/04/2021 às 11h38 - atualizada em 10/04/2021 às 19h37
Felipe Farias
Maceió / AL
O ex-juiz Marcelo Tadeu falou nesta sexta-feira (9), em coletiva, a respeito do indiciamento do delegado-geral da Polícia Civil de Alagoas, Paulo Cerqueira, por envolvimento no atentado contra o magistrado, mas que acabou vitimando o advogado Nudson Harley, em julho de 2009 em Maceió. Tadeu disse não estar surpreso e que espera a prisão de Cerqueira.
Mais cedo, informações davam conta de que Cerqueira havia sido afastado do cargo, mas a assessoria da Polícia Civil não confirmou.
O indiciamento foi noticiado em primeira mão pelo jornalista Odilon Rions, do Repórter Nordeste. Segundo ele, o inquérito da Polícia Federal mostra que um dos autores materiais do crime, Antônio Wendel Guarnieri, afirmou em depoimento que Paulo Cerqueira o contratou para executar o juiz. A negociação do crime havia sido intermediada pelo policial militar Natan Simão.
A investigação da PF mostra ainda que Cerqueira atuou para impedir as investigações. Tanto é que ele tomou para si a presidência do inquérito e, sem considerar outras hipóteses, arquivou o caso. Cerqueira ainda pagou as despesas de Wendel e deu a ele um telefone celular. A arma utilizada no crime era da polícia alagoana.
Na coletiva que concedeu nesta sexta, o ex-juiz Marcelo Tadeu desabafou sobre o caso e fez duras críticas a Paulo Cerqueira.
"Esse delegado Paulo cerqueira não me ouviu, sequer me ouviu como testemunha. Se negou a isso. Ele não quis saber da linha de investigação de erro de execução. Ficou numa linha que foi criada e em 10 dias encerrou tudo. Isso é tirar onda com a cara de Marcelo Tadeu, um magistrado com experiência. Eu tive que assistir a tudo sem ter o direito de ser ouvido", afirma o magistrado aposentado.
Tadeu diz ainda que está provado que o inquérito foi maquiado, construído pelo ainda delegado-geral da PC alagoana e que terminou em pizza, além de explicar o que ele chamou de "má vontade" nas investigações.
"Foi um crime de mando. Paulo Cerqueira, diga para quem o senhor fez isso. A quem o senhor atendeu? Será que é isso que o faz permanecer no mesmo cargo há 10 anos? Preste contas das suas atitudes. Diga por que não quis me ouvir, presidindo um inquérito que terminou em pizza", diz.
O ex-juiz também teceu críticas a outros órgãos do judiciário, dizendo que tinham como missão combater crimes, mas deixaram de combater o crime contra ele, que diz ter sido chamado de louco várias vezes por buscar respostas.
O caso foi parar nas mãos da Polícia Federal por conta da insistência do magistrado, que procurou também o Superior Tribunal de Justiça e a Procuradoria Geral da República, uma vez que o judiciário local, nas palavras dele, não o estava levando a sério.
"Fui vítima de buylling institucional. A minha classe na magistratura me abandonou, não quis saber, não me visitou. Esse fato mexeu muito comigo, sobretudo na estrutura do poder Judiciário. Eu não aguentava mais olhar praquela estrutura. Eu tinha vergonha, nojo de estar nela. Não convivia mais. Eu sofro com o desdém das instituições, que não enfrentam uma coisa tão séria. Já são 10 anos de incertezas", desabafa.
Tadeu afirma ainda que, durante as investigações, além de manipular provas, o delegado-geral mandou periciar uma arma de calibre diferente da utilizada no atentado. "Eu quero esse homem preso", conclui.
O advogado do magistrado aposentado, Thiago Pinheiro, também falou sobre o caso. Segundo ele, essa história traz vergonha para o estado.
"Além de omisso nas investigações, o delegado sonegou provas, manipulou interceptações telefônicas, retiradas do processo por ele, presidente do inquérito. Tudo isso vai ser trabalhado para que o estado não se torne criminoso. Digo, seus representantes, que ocupam cargos de chefia. Não dá para manter o cidadão indiciado num cargo de confiança. Foi um inquérito falso. Ele permanecer nesse cargo traz insegurança para todos nós", diz Pinheiro.
FONTE: com Derek Gustavo
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